quarta-feira, 3 de junho de 2009

Nova edição dos documentos vaticanos sobre procedimento contra Galileu


O Arquivo Secreto Vaticano publicará uma nova edição dos documentos do Vaticano sobre o procedimento contra Galileu, no final deste mês de junho. Esta contribuição decisiva na celebração do Ano Internacional da Astronomia esteve a cargo do prefeito do Arquivo Secreto Vaticano, o bispo Sergio Pagano, segundo informa a edição italiana diária de L’Osservatore Romano desta sexta-feira. A nova edição está determinada pelo maior conhecimento dos personagens que intervieram no processo ao astrônomo, segundo Dom Pagano, “todos especificados nas notas e muitos deles inquisidores”. Incorpora, além de todas as cartas do processo, 20 novos documentos encontrados no Santo Ofício desde 1991, comentários críticos a vários documentos que requerem uma edição fiel à original e uma ampla introdução histórica sobre as circunstâncias que levaram à instrução e desenvolvimento do processo. A nova edição do volume I dos documentos vaticanos do processo de Galileu Galilei tem 550 páginas e 1.300 notas. Com relação ao processo contra Galileu, Dom Pagano opina que “a atitude dos teólogos podia ter sido mais compreensiva e flexível”. “Entendendo que os tempos históricos não eram suficientemente maduros para receber as pesquisas científicas do grande estudioso de Pisa, é inegável que neste assunto foram cometidos diversos erros, também por parte do próprio Galileu”, declarou. O bispo explicou que em uma cultura dominada pela visão ptolomaica, que considera que a terra é o centro do universo, o sistema copernicano “vinha contradizer sistematicamente a Escritura, então letra sem interpretação”. Dom Pagano também destacou a “firme e resoluta decisão de Urbano VIII de querer o processo e a condenação confiando as cartas e os estudos de Galileu ao crivo de estudos limitados e nem sempre à altura”. “Entre os jesuítas – que permaneceram fora do processo – não teriam faltado atitudes dispostas a ser mais indulgentes com os estudos do astrônomo de Pisa”, acrescentou. O Papa João Paulo II reconheceu os erros da Igreja no processo de Galileu em 31 de outubro de 1992, em um discurso aos membros da Pontifícia Academia das Ciências. “Como a maioria de seus adversários, Galileu não distingue entre a aproximação científica dos fenômenos naturais e a reflexão filosófica sobre a natureza, que é o que se requer normalmente”, recordava então o pontífice. “Por isso, ele rejeitou a sugestão de apresentar como uma hipótese o sistema de Copérnico até que não fosse confirmado com provas irrefutáveis – destaca o Papa. Aquela medida era uma exigência do método experimental do qual ele foi o genial iniciador.”E explica: “o problema que os teólogos da época encontraram era a compatibilidade entre o heliocentrismo e a Escritura”. “Desta maneira, a ciência nova, com seus métodos e liberdade de investigação, obrigou os teólogos a interrogar-se sobre seu critério de interpretação – prosseguia. A maior parte não sabia fazê-lo.”E acrescentava: “Paradoxalmente, Galileu, crente sincero, mostrou-se neste ponto mais perspicaz que seus adversários teológicos”.


Redacção: Zenit

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