quarta-feira, 3 de junho de 2009

Serviço de Arquivo Histórico e Biblioteca do Patriarcado de Lisboa: Uma estrutura em prol do património documental da diocese


“Anjos e Demónios” filme recentemente estreado e inspirado no best-seller homónimo de Dan Brown, não obstante as críticas que têm sido veiculadas e do seu tom velozmente hollywoodesco, apresenta virtuosismos no que concerne à sensibilização para o vasto e valioso património documental da Igreja e do seu farto contributo, mutatis mutandi, para a história da humanidade. Ao visionar a película, o espectador é confrontado com duas visitas dos protagonistas ao Arquivo Secreto do Vaticano e depara-se com um quadro de alta sofisticação técnica colocada ao serviço da manutenção e salvaguarda do património documental. Os depósitos da documentação são câmaras isoladas com baixos níveis de oxigénio, alarmes e sensores de tudo e mais alguma coisa. Pese embora o nosso desconhecimento in situ dos depósitos de arquivo da Santa Sé, certamente não dispõem de todo o aparato técnico representado no filme. Contudo, e sem pretendermos cair na apologia utópica deste tipo de estruturas para a salvaguarda e conservação do património documental, não podemos deixar de nos sentir motivados para a necessidade e urgência que se coloca ao cabal tratamento dos nossos documentos.

A Igreja Católica é, em verdade, depositária de um extenso património documental passível de gerar perplexidades quando urge o seu tratamento. Há cerca de um ano, João Soalheiro, director do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, estimava em 500 mil metros lineares a documentação produzida e acumulada pela Igreja em Portugal. Aliado este volume documental aos custos inerentes a um processo moroso e com exigências técnicas e humanas específicas, acreditamos que os responsáveis pelas várias estruturas vacilem entre as sugestões de um “anjo” que lhes diz que vale a pena apostar em organizar os arquivos e um “demónio” que os convence de que o melhor é deixar estar como está, pois não advêm daí resultados visíveis e imediatos.
Na Diocese de Lisboa, o serviço desenvolvido em torno do património documental, embora com alinhamentos estratégicos e enquadramentos organizacionais diferentes, remonta há alguns anos. Em 1972, o Cón. Isaías da Rosa Pereira publicou na «Lusitania Sacra» um «Inventário Provisório do Arquivo da Cúria Patriarcal de Lisboa». Em 1993, D. António Ribeiro, reconhecendo que o património documental continua incessantemente a enriquecer-se por força da acção pastoral que todos os dias se vai desenvolvendo nas estruturas da Igreja, decretou a instituição do Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa com a competência de recolher, conservar e ordenar a documentação à sua guarda, facultá-la à investigação e velar pela organização dos arquivos das paróquias. No ano 2000, fruto dos trabalhos de estágio do curso de arquivística religiosa promovido pelo Centro de Estudos de História Religiosa, é elaborado o recenseamento prévio de parte da documentação existente em depósito. Em 2006, por estímulo de D. Carlos Azevedo, Bispo-Auxiliar do Patriarcado de Lisboa, são desenvolvidos esforços para que este serviço da diocese seja dotado de uma equipa estável com capacidade para gerir os trabalhos de forma sistemática, recorrendo ao mecenato e apoio de voluntários. Foi neste contexto que o Serviço de Arquivo Histórico e Biblioteca, integrado recentemente no Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa, se dotou de um corpo técnico consolidado e uma equipa de voluntários que têm desenvolvido actividade multifacetada: constituição e organização da biblioteca e sala de leitura; limpeza e organização de várias séries documentais; organização e descrição do arquivo do Cardeal Cerejeira; incorporação e organização de arquivos paroquiais, com destaque para os arquivos das Paróquias de Santo Estêvão e S. Miguel de Alfama que acolheram o apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, entre outros.
Na linha do quem sido o trabalho desenvolvido, é objectivo deste serviço da diocese:


  • recolher, conservar, preservar, seleccionar, tratar e difundir a documentação que, pela sua natureza e valor, se revista de interesse histórico para a diocese, obrigando à sua conservação definitiva;

  • actuar na promoção do património documental da diocese, a fim de o inserir e transmitir nos circuitos vitais da acção cultural e pastoral;

  • proceder ao tratamento arquivístico de toda a documentação reunida, segundo as normas nacionais e internacionais em vigor, e elaborar instrumentos de descrição (guias, inventários, catálogos, índices);

  • colaborar e apoiar a realização de estudos por parte de investigadores internos e externos, sobre temas ligados à história do Patriarcado, em particular, e à história da Igreja em Portugal, em geral;

  • cooperar com todos os departamentos e sectores da diocese em actividades ou manifestações de carácter pastoral, cultural, científico ou técnico que dignifiquem e sirvam os interesses da diocese.

A inviabilidade em dotar serviços da Igreja com um aparato técnico-científico, simulacro do exibido na película citada, não pode ser factor para um descomprometimento com a memória das comunidades cristãs. Para uma digna conservação dos documentos basta, muitas vezes, cuidados básicos de higiene das salas e correcto acondicionamento.
Na medida em que os documentos contêm testemunhos claros de uma marca genética que nos identifica como membros destes corpo que é Igreja, apelamos aos que tiverem disponibilidade e gosto em colaborar, em regime de voluntariado, que nos contactem através do Tel: 218810500 ou E-mail: r.aniceto.ccultural@patriarcado-lisboa.pt

Publicado em Voz da Verdade, 31-05-2009.

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