Dom Friedhelm Hofmann, bispo de Würzburg-Alemanha, destacou sábado passado à assembleia do Sínodo dos Bispos reunida em Roma desde 5 de Outubro, que a cultura cristã é uma forma privilegiada de incidência na sociedade. Segundo o prelado, «a revelação de Deus não se limita à Palavra de Deus na Bíblia. Acontece também na natureza e na cultura». Num contexto em que é necessário explicar novamente a cultura cristã, a arte deve voltar a ter um lugar de destaque. Citando a matriz cultural cristã da Europa e a herança cultural legada pela igreja enquanto testemunhos de fé, evidenciou as arquitecturas extraordinárias, obras de arte figurativas, musicais e literárias.
Neste contexto, apetece chamar a atenção da hierarquia católica para a importância do património documental. Se o documento, muitas vezes em si mesmo , não encerra uma dimensão estética imediata, constitui-se elemento fundamental para perceber a acção evangelizadora, revolucionária e bela da mensagem de Cristo. Fundamental para a construção da memória histórica e para a identidade das comunidades eclesiais, o património documental, enquanto repositório das fontes do desenvolvimento histórico das comunidades cristãs, é memória viva dessa dimensão estética que é, por excelência, a vida. Perceba-se o desmazelo e incúria para com as provas documentais da acção do Espírito Santo?!
Na realidade, tendo em conta o estado em que se encontram, muitas vezes, os depósitos dos arquivos religiosos, o mais desprovido de cultura teológica poderá pensar que o Espírito Santo é aquela pomba estúpida que Alberto Caeiro descreve como estando sempre a coçar-se com o bico e a sujar as cadeiras (digo, os manuscritos), empoleirando-se.
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